quarta-feira, 25 de maio de 2011

Hobbes x La Boétie

A sociedade na qual vivemos está cada vez mais complexa e dela surge a necessidade de existir o comando; o controle que objetive o crescimento e a evolução. Dessa forma, é possível confrontar as teorias elencadas por Hobbes e La boetie, em que este teoriza a servidão voluntária, sendo contra a mesma, bem como á soberania, e o outro encarando o estado civil como a necessidade básica para a organização, ou seja, a ordem.

La Boétie afirma que o poder que um homem exerce sobre os demais é ilegítimo e evidencia claramente que a fraqueza humana da – se quando nos curvamos perante a força. “Muita gente a mandar não me parece bem” afirma o autor diante do seu Discurso. Ora, fica explícita então a conotação negativa que La Boétie apresenta sobre a servidão voluntária. Idealiza a liberdade de uma forma essencial  à existência humana fazendo, por exemplo, sérias críticas em relação ao povo judeu que, segundo ele, se submeteram a um soberano sem se rebelarem. Fica claro então, que a ideia de soberania de La Boétie está diretamente associada a da servidão, ou seja, a perda do ideal de liberdade. “(...) o poderio de um só é duro e revoltante quando este toma o título de senhor...” afirma o autor.

Pode - se, associar assim o pensamento do autor ao pensamento marxista. São, sem sombra de dúvidas, de semelhante ideologia. Na Teoria da Alienação em Marx, fica evidente que o homem se torna alienado a partir do momento em que vende sua força de trabalho e, consequentemente, não possuindo aquilo que produz. Sendo assim é uma associação direta à servidão voluntária.

Mas é necessário visualizar que o pensamento de La Boétie e Marx simplesmente não convém ao método social, político e econômico das sociedades atuais. Uma vez que o sistema capitalista se desenvolveu desenfreadamente, a servidão voluntária é algo preciso, necessário. Ou seja, o capital existe e só é viabilizado a medida que as contradições crescem, que as desigualdades e disparidades evoluem, social e economicamente. Para que exista a ordem dentro deste âmbito de classes divergentes é necessário o poder central, o soberano que guie o Estado.

Partindo – se deste contexto é possível elencar aqui o pensamento hobbesiano. Segundo Hobbes, contratualista por excelência, a liberdade, assim como a igualdade, é uma ideia puramente retórica e que não deve ser considerada com demasiada importância, o que significa dizer, em outras palavras, que para Hobbes deve – se abrir mão da liberdade em troca da garantia de sua sobrevivência. O indivíduo que detém essa liberdade, vive em ameaça constante, ou seja, em seu Estado de Natureza, podendo gerar assim uma “guerra de todos contra todos” O Estado civil, ao contrário deste,  é uma garantia da paz, da ordem, do bem comum, pois essa liberdade é entregue ao soberano em troca da reciprocidade, ou seja, ele detém a liberdade em troca da satisfação de seus cidadãos.

Hobbes é correto ao afirmar que o caráter soberano é necessário, pois quando este entra em ação, a garantia da vida é tida, e não mais ameaçada como no estado primitivo. O poder político para Hobbes tem de ser, sem dúvidas, absoluto, ilimitado, indivisível pois é a única forma do pacto do chamado Contrato Social, aconteça com eficácia.

2 comentários:

  1. Caroline Yazbek - RA 0009303326 de junho de 2011 às 11:22

    No meu ponto de vista o texto foi construído em cima de uma ótima ideia central, onde se discutiu a visão de La Boétie e Hobbes, confrontando-as de tal forma que se obteve uma interessante análise na qual nos deparamos com duas visões opostas sobre a servidão voluntária.
    Primeiro vimos como Étienne de La Boétie a enxerga negativamente. Acredito que o ponto de vista deste foi muito bem apresentado quando exposta a ideia de que ele enxerga a servidão voluntária como a causa da soberania e que os indivíduos não deviam aceitá-la, o exemplo dos judeus complementou perfeitamente a análise, assim como a associação do pensamento deste com o de Marx. Entretanto, já que no texto fica claro que para Hobbes a causa da servidão voluntária é a necessidade de proteção, acredito que caberia dizer que, para La Boétie, a causa da servidão voluntária é o hábito de aceitá-la, hábito este que passa de geração pra geração e, sendo assim, servir torna-se algo natural e voluntário para os homens.
    Também não interpreto a visão que La Boétie tem sobre a liberdade como algo idealizado, pois este enxerga que a servidão voluntária oprime os indivíduos, o que é fato e, além disso, afirma que um dos motivos de renunciá-la é para obter proteção, assim como afirma Hobbes. A diferença é que para o primeiro, ainda assim, a ausência de liberdade é prejudicial e opressora e para o segundo é bem vista, positiva e necessária.
    Por fim, gostaria de dizer que foi muito propício demonstrar que as ideias de La Boétie e Marx não cabem na conjuntura em que vivemos. Tais visões e propostas são incompatíveis com um mundo onde reina o capitalismo, no qual a existência da servidão voluntária se faz necessária.

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  2. Muito bem comparadas as visões entre Hobbes e La Boétie.É interessante agregar o pensamento de Rousseau. La Boétie crê que se vivêssemos de acordo com as leis da natureza, obedeceríamos naturalmente ao país, sem que precisássemos nos submeter ao jugo de ninguém. A natureza nos fez iguais, mesmo que alguns dons tenham sido repartidos diferentemente, mas não destinando os mais afortunados a dominar os outros. Rousseau tem pensamento similar a La Boétie, e afirma que a desigualdade natural não é expressiva e por conseguinte não cria desigualdade política. O problema é a propriedade privada, que cria condições para a desigualdade moral e jurídica. Percebe-se essa desigualdade na relação soberano/súdito. Para Hobbes, é necessária essa desigualdade, uma vez que a igualdade apenas gera guerra, restabelecendo o estado de natureza. O contrato hobbesiano, então, reúne os homens em sociedade e os submete à soberania de um Estado, pois só assim, com o desenvolvimento físico das sociedades, obtém-se o desenvolvimento científico. Ao contrário, o pacto de Rousseau seria a cessão voluntária de direitos para que se chegue à igualdade, onde o soberano é o povo e a função do Estado é diminuir a desigualdade.

    Lívia Radaeski - RA00092978

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